sexta-feira, 18 de abril de 2014

O MUTISMO SELETIVO E A CRIANÇA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE BOA VISTA


Patrícia das Dores Lima Aragão [1]
Prof. Orientador Dr. Flavio Corsini Lirio [2]

RESUMO

Este artigo expõe aspectos sobre uma deficiência denominada de mutismo seletivo. Trata-se de um estudo de caso de tipo qualitativo, desenvolvido em uma unidade de ensino fundamental da rede municipal de Boa Vista- Roraima. Utilizou-se a observação e a análise documental como instrumentos de coleta de dados. O sujeito observado foi uma aluna que apresenta um possível distúrbio denominado mutismo seletivo. Estudos apontam que crianças que apresentam esse tipo de distúrbio começam a estudar a partir dos três anos. Nesse contexto a escola converte-se em um espaço no qual muito dos problemas de linguagem se apresentam, mas nem sempre os professores estão preparados para detectá-lo e/ou considerá-lo como problema. Dessa maneira, o presente estudo aponta para a ideia da invisibilidade do mutismo seletivo em sala de aula.

Palavras-chave: Mutismo Seletivo; Criança; Escola.

________________________
[1] Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Roraima.
[2] Doutor em Educação (Educação, Currículo, Epistemologia e História) pela Universidade Federal do Pará (2013). Professor Adjunto I da Universidade Federal de Roraima no curso de graduação em Pedagogia.

INTRODUÇÃO

O mutismo seletivo (MS) é considerado um distúrbio, no entanto ainda pouco investigado e compreendido como uma deficiência, sobretudo em ambientes em que o silêncio, em muitos momentos, é considerado uma qualidade e não necessariamente uma possível deficiência. Isso porque as pessoas que apresentam MS geralmente têm sua capacidade linguística preservada, compreendem o idioma falado e são capazes de falar normalmente em outros ambientes, como, no meio familiar onde são crianças que se comunicam normalmente com os pais, irmãos ou com pessoas que ela considera próximas de seu convívio.
É na escola que a maioria das crianças começa a ampliar seu aprendizado e o seu convívio social. Observamos que nesse ambiente o aparecimento desse distúrbio pode afetar negativamente e de maneira profunda a auto-estima das crianças e o seu processo de ensino e aprendizagem.
O aluno que fica muito tempo calado em sala de aula é considerado uma pessoa tímida e para diferenciá-lo desse comportamento e avaliar que é um mudo seletivo, deve-se ter conhecimento sobre o assunto e proceder procurando formas de estimular esse educando a interagir.
O professor não deve permitir que esse comportamento se prolongue, uma vez que isso pode gerar traumas maiores e consequentemente comprometer no aprendizado desse aluno, tanto na vida escolar como em sua relação social. Neste sentido, percebe-se o quanto pode se tornar grave esse distúrbio, devido a pouca informação ou conhecimento que a maioria dos professores possuem em relação a ele.
Para aprofundar o assunto foi necessário buscar conhecimentos científicos sobre o MS. Dessa maneira a pesquisa em tela baseou-se em referências como Coll et. al. (2004), Peixoto (2013) e Silva (2011/2012).
            Trata-se de uma pesquisa qualitativa que de acordo com Gil (2009) não constitui tarefa simples garantir os meios para conferir precisão às medidas, pois exigi do pesquisador uma habilidade na apresentação de uma descrição minuciosa dos resultados obtidos no trabalho de campo.
O tipo de pesquisa utilizado foi o estudo de caso que é considerado um dos mais adequados a uma pesquisa de cunho qualitativo. De acordo com Goldenberg (2004, p. 33/34):

O estudo de caso reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Através de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conseguida pela análise estatística.

A pesquisa é de natureza qualitativa a partir da investigação de um objeto concreto e avaliado com base em uma prática social. Considerando o sujeito de pesquisa importante no processo de investigação apoiou-se nos seguintes instrumentos de coleta de dados: visita ao local selecionado, observação do ambiente, observação da aluna com MS em sala de aula, análise documental (dos relatórios da professora e da fonoaudióloga), pesquisa bibliográfica sobre o assunto, entrevista com a professora, registro das experiências vivenciadas individualmente e coletivamente da criança em seu ambiente escolar.
Isso possibilitou uma melhor compreensão e esclarecimento sobre essa temática tão intrigante. E dessa forma segundo Demo (1986, p.63):

A abordagem qualitativa realça os valores, as crenças, as representações, as opiniões, as atitudes e usualmente é empregada para que o pesquisador compreenda os fenômenos caracterizados por um alto grau de complexidade interna do fenômeno pesquisado.

A observação da aluna em seu ambiente escolar possibilitou conhecer a sua vivência e a sua interação social, tanto em sala de aula, como fora dela e sua “forma de comunicação” com os seus pares e demais sujeitos. Essa convivência permitiu identificar os indícios do MS apresentado pela criança no espaço escolar.
Desse modo, delineou-se como o objeto de estudo a seguinte proposição “a observação e caracterização de uma aluna que apresenta o MS em sala de aula de ensino fundamental.” Como questão de investigação foi apresentada a seguinte ideia: De que maneira o mutismo seletivo é percebido em sala de aula de ensino fundamental e como esse comportamento pode influenciar no processo de aprendizagem do aluno?
A partir dessas observações gerais o presente artigo está organizado em três seções, sendo: O mutismo seletivo de criança no ambiente escolar: aspectos conceituais de uma síndrome pouco conhecida; A invisibilidade do mutismo seletivo como um problema observado em sala de aula e Possíveis métodos pedagógicos para amenizar os sintomas do distúrbio do aluno com MS em sala de aula.

1. O mutismo seletivo de criança no ambiente escolar: aspectos conceituais de uma síndrome pouco conhecida

O MS é um transtorno que até hoje é pouco conhecido no Brasil. Esse tipo de transtorno foi detectado pela primeira vez pelo médico alemão Kussmaull, em 1877, referindo-se a pacientes que não falavam em algumas situações, mesmo tendo habilidade linguística para fazê-lo. Esse problema foi denominado de “afasia voluntária” [3], por lhe parecer uma decisão voluntária de não falar (PEIXOTO, 2006).
Ribeiro (2012) relata que o psiquiatra Morris Tramet, em 1934, utilizou a terminologia “mutismo eletivo” para descrever um quadro clínico apresentado por um sujeito considerado incapaz de falar em situações em que seria esperado que o fizesse. O termo eletivo sugeria, também, que havia uma decisão deliberada para não falar.
          No entanto, a American Psychiatric Association (DSM-IV, 1994) [4] mudou o nome desta disfunção de “mutismo eletivo” para “mutismo seletivo” e de acordo com Coll [et. al.] (2004, p. 79) significa que:

O Mutismo Seletivo é um transtorno pouco frequente que se caracteriza pela ausência total e persistente da linguagem em determinadas circunstâncias ou diante de determinadas pessoas, em crianças que adquiram a linguagem ou a utilizam adequadamente em outros contextos ou em presença de outras pessoas.

        Dessa maneira, acredita-se que a influência dos fatores ambientais e situações interpessoais sejam de grande peso para o desenvolvimento do MS que pode ser deflagrado por uma experiência negativa pela qual a criança passou como: uma violência física ou verbal, ou uma grande decepção ou trauma (início escolar, sequestro, violência, morte).
         Ainda de acordo com Coll (2004) todos esses fatores de alguma maneira estão relacionados à separação drástica do cuidador da criança, ou a exposição da criança a uma situação que a impacta negativamente e faz com que ela tenha a sua manifestação verbal comprometida.
           As pesquisas como as de Peixoto (2006) apresentam que os primeiros sintomas dessa disfunção se tornam mais claros por volta dos três anos de idade quando a criança começa a frequentar a escola, podendo ser percebido normalmente pelo professor, que mesmo sem o conhecimento do assunto observa a extrema timidez de seu educando que ao ser convocado a interagir com os colegas não consegue se expressar verbalmente.
           Durante o período de observação detectou-se que sempre que a aluna tentava se comunicar, ainda que por meio de gestos, a mesma era elogiada (como uma forma de reforço positivo), e o oposto quando ela se recusava a qualquer forma de comunicação, sendo a mesma ignorada. Na relação com os colegas também foi observado que em alguns momentos eles a tratam de maneira pejorativa utilizando o apelido de “mudinha”.
O comportamento observado permite inferir que o profissional de educação que está atuando em sala de aula deve ter vigilância em relação a esse tipo de atitude dos colegas com a criança que apresenta sinais de MS. Isso vale também para os demais sujeitos (professores, equipe técnica e administrativa).
A criança que apresenta MS é dotada uma necessidade especial de atendimento e como tal Mendes (2004, p. 228) afirma a importância de:

Educar crianças com necessidades especiais juntamente com seus pares em escolas comuns é importante, não apenas para prover oportunidades de socialização e de mudar o pensamento estereotipado das pessoas sobre as limitações, mas também para ensinar o aluno a dominar habilidades e conhecimentos necessários para a vida futura dentro e fora da escola.

          Como afirma o autor a garantia de acesso da criança com necessidade especial no ensino dito regular é uma maneira de oportunizar a todos os alunos a interação e a superação de determinados estigmas. No caso do MS a interação com os seus pares é fundamental para auxiliar na superação dos problemas de comunicação.
            Observou-se, também, que os colegas tornaram-se intérpretes da aluna que faremos chamaremos de RJ, como por exemplo, respondendo a chamada em seu lugar, pedindo para ela sair para beber água, ir ao banheiro, entre outras coisas que eles entendiam por meio da interação gestual. Esse comportamento, por mais que pareça uma ação solidária dos colegas, acaba por tornar difícil romper esse “casulo” do silêncio em que a aluna se encontra.
            Já no recreio, a aluna RJ não come a merenda da escola por não frequentar a fila, há uma resistência em relação à comunicação com os sujeitos que servem a merenda. A aluna é servida pelos colegas que frequentam a fila e levam o lanche até a mesma. Ela brinca, faz gestos ou assovia para chamar atenção dos colegas mais próximos, que lhe atendem prontamente. Há uma interação com os colegas, porém não verbal.
            Esse processo de interação de acordo com as pesquisas Piaget (1994) é fundamental para a construção da autonomia moral dos sujeitos. No entanto, ele ressalta que deve estimular uma participação ativa da criança, ele acredita que nas interações que a criança faz com a comunidade ela vai construindo seus valores e suas regras. A autonomia só aparece com reciprocidade, quando o respeito mútuo é bastante forte, para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de tratar os outros como gostaria de ser tratado.
            A conquista das relações se dá por meio social de cooperação que a criança deve estabelecer no decorrer de sua vida, não se pode sustentar um vínculo de dependência. No caso da aluna em tela há momentos em que ela se mostra bastante participativa, como foi observado em uma apresentação de grupo de dança no festival da primavera apresentado na escola. Nota-se, então, que na escola, os professores devem saber diferenciar a metodologia de ensino para que todos os alunos sejam atendidos.
        Santos (2013) relata que a maioria das crianças diagnosticadas com MS têm competências comunicativas ditas normais. Crianças que apresentam essa disfunção no ambiente escolar, em casa conversam normalmente com os pais e brincam com os irmãos. No relato da fonoaudióloga sobre a aluna RJ isso fica explícito:

Paciente, RJ, seis anos de idade, compareceu ao consultório no dia, 04 de outubro de 2013, acompanhada com a responsável. Ela foi encaminhada pela psicóloga, com a queixa de que “em casa fala tudo e na rua não fala nada”. Durante avaliação Fonoaudiólogica observou-se que a mesma apresenta todas as funções básicas para a linguagem, tem noção de cor, de forma, de tamanho, ótima percepção espacial e temporal, com relação à comunicação oral observou-se que o sistema fonético/fonológico encontra-se dentro dos padrões de normalidade, emite e compreende bem as palavras, possui atenção à fala ambiente. [...] Necessitando, portanto, de acompanhamento para que seja estimulada a fala no nível social.
Diante do exposto, necessita-se de exame complementar para a conclusão de hipótese diagnóstica. (Relatório Fonoaudióloga, p. 01, 2013)
 
    Quanto à duração dos sintomas é variável e diversificada entre as pessoas que apresentam MS. O medo de avaliação traz consigo consequentemente a inibição social, podendo afetar as crianças ou os adolescentes no seu desenvolvimento.
        O aluno mutista apresenta dificuldade de manter contato visual, além de não se expressar verbalmente. Isso poderá implicar no resultado da avaliação em sala de aula pelo professor e em seus processos de aprendizagens. A criança pode ser promovida para a próxima série, mas despercebida, pode tornar seu aprendizado comprometido ou mal avaliado.
         Para enfrentar esse problema, as práticas pedagógicas não podem ser fixas e devem ser planejadas de acordo com as necessidades e características do alunado. É necessário, portanto, que os professores saibam organizar situações de ensino aprendizagem que possam atender, satisfatoriamente, a diversidade educacional que é apresentada a partir da realidade cultural e social dos alunos.
         No entanto, no processo de observação percebeu-se que ao tomar á leitura a professora pede RJ que leia em voz baixa e depois responda por escrito mostrando o que entendeu da questão, o que a aluna atende prontamente, inclusive escrevendo as respostas no quadro branco. Assim, a professora não faz com que a aluna seja forçada a falar, elogiando seu esforço. Essa ação, no entanto, acaba por corroborar a situação de timidez, quando deveria ser estimulado o processo de comunicação verbal da aluna RJ.
      Segundo como Vygotsky (1994), o aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam. Pois, com a influência de outras pessoas, os alunos que apresentam uma deficiência, passam a desenvolver, habilidades, atitudes e hábitos, que muito contribuem para a sua adaptação e sua aprendizagem. Isso como maneira de suprir a necessidade ou limitação que apresentam naquele momento.
            Nas atividades em grupo RJ só observa e responde por escrito, e por prestar atenção nas coisas que os colegas estão fazendo, algumas vezes, demora a copiar e em determinados momentos acaba por tocar o sinal da hora da saída, e assim nem sempre RJ copia ou responde toda a tarefa.
           A prática pedagógica observada não tem contribuído para viabilizar a inclusão da aluna RJ, e superação do seu MS. Segundo Carvalho, (2004, p. 44).

O verdadeiro outro não está na sua manifestação externa, mas sim em seu potencial (interno) de construir-se e reconstruir-se na medida em que nós, intencionalmente, desejamos ou não, viabilizar-lhe o processo. O que se constata, lamentavelmente, é que, nem sempre, são oferecidas as condições necessárias para o desenvolvimento das potencialidades, o que seria a melhor forma de autorizarmos a diferença no nosso convívio cotidiano.

         No caso do MS não é investido na potencialidade de comunicação do sujeito, com ações pedagógicas que possam contribuir para o rompimento desse estado. A criança que apresenta dificuldade de comunicação se senti sozinha em uma sala de aula lotada, cercada de pessoas que poderiam estar interagindo com ela, mas que, na maioria das vezes, não percebem nem sua presença. Isso poderá ocasionar grandes consequências psicológicas para o resto da vida da pessoa que carrega esse fardo, silenciosamente.
Uma vez feita as considerações sobre o MS, a próxima seção irá abordar sobre a invisibilidade do mutismo seletivo no ambiente escolar, que acaba não sendo identificado como um problema pelo profissional da educação.

2. A invisibilidade do mutismo seletivo como um problema observado em sala de aula

Durante as observações feitas, no cotidiano de uma sala de aula de ensino fundamental, notou-se o quanto a criança com MS pode se passar invisível pela visão do professor, que geralmente leciona em uma sala de aula lotada. Inclusive valorizando um determinado comportamento, quando ele deve ser diagnosticado e encaminhado para tratamento especializado.
Sendo o professor responsável pela turma, ele identifica os alunos que se comportam de maneira inquieta e estes são os que dão mais trabalho em todos os contextos, dificultando o trabalho do educador, exigindo mais atenção durante as práticas pedagógicas. Logo, aqueles alunos que se comportam de forma quieta, disciplinada não chamam atenção do professor.
A professora que trabalha na sala de aula observada que denominaremos professora “A” enfatizou na entrevista que “a turma é numerosa (30 alunos) e isso dificulta o seu trabalho. Os alunos são bastante ativos e se desconcentram facilmente com brincadeiras e conversas paralelas. Mas, RJ se mostra bastante disciplinada em relação à maioria, não participa de conversas paralelas, brinca na hora da brincadeira e faz as atividades na hora da aula.” (Entrevista com a professora “A”)
A professora “A” descreve em seu relatório que “a aluna RJ, escreve seu nome completo, possui autonomia ao fazer o uso da escrita com letra cursiva. Vale ressaltar, que para a prática cotidiana sua grafia torna-se mais legível e mais independente. Ler, escreve e compreende o significado de palavras e frases simples. Resolve operações de adição com resultados de 0 (zero) a 20 (vinte). Resolve sentenças matemáticas com nível de baixa dificuldade. Vale ressaltar que a referida aluna assimila novos conteúdos com facilidade e significativa compreensão. Para tanto, apresenta dificuldade para realizar operações de subtração. Permanece uma criança alegre embora não se expresse verbalmente, nem com a professora nem com os colegas, participa ativamente de todas as brincadeiras e atividades da sala de aula. Sendo zelosa com o seu material de uso pessoal e coletivo. É uma aluna simpática e de bom relacionamento com os colegas, professores e demais profissionais da escola.”
            Em ambos os relatos (entrevista e relatório) a professora “A” considera que o fato da aluna RJ não se expressar verbalmente não compromete o seu aprendizado. Ao mesmo tempo esse relato é fundamental para indicar um possível diagnóstico de MS, conforme a descrição da American Psychiatric Association (1994, p. 149).

[...] o diagnóstico para mutismo seletivo recai sobre um sintoma primário: fracasso persistente em falar nas diversas situações sociais específicas (nas quais existe a expectativa para falar, por exemplo, na escola), apesar de falar em outras situações.

           Esta possibilidade não é mencionada no relato da professora. A ênfase de positividade que a professora “A” descreve em relação ao comportamento de RJ pode ser um dos motivos que dificulta a mesma identificar esse comportamento como um possível distúrbio.
As crianças com MS, por serem alunos considerados disciplinados, costumam ser elogiados, mas com frequência obtém menos atenção do docente, por estarem enquadradas em não fugir do que é estabelecido como norma. Por esta razão, muitas vezes, um comportamento disfuncional no indivíduo disciplinado, pode demorar a ser percebido e reforça a ideia de que o mutismo seletivo acaba por ficar na invisibilidade. Esse comportamento disciplinado faz com que os profissionais de educação simplesmente se deparem com alunos mutistas em suas práticas pedagógicas, não sabendo diferenciar uma simples timidez do que é considerado como distúrbio classificado como “mutismo seletivo”. As crianças mutistas acabam por “passar em branco” sua presença/ausência em sala de aula, pois não é notada como um problema.
            Para o profissional de educação, o educando se torna o exemplo de aluno “perfeito”, quando está sempre “obedecendo as regras”, não se expressando, não manifestando opiniões, não fazendo “nada de errado”. Ele acaba por ser praticamente invisível em sala de aula, absorvendo informações e não as compartilhando, não socializando, não demonstrando o sofrimento que sente por dentro. Nessa perspectiva os educadores e educandos podem nem sempre ser solidários com os alunos mutistas, reforçando essa característica através de formas pejorativas de reforço, como: elogiar o seu silêncio, chamar esse aluno de mudo ou rindo quando o mesmo tenta se comunicar de alguma forma, ainda que não intencionalmente.
No processo de observação esse comportamento foi identificado, sobretudo no trato dos colegas com a aluna RJ, recebendo a apelido de mudinha, como já mencionado (Relatório de observação, p. 2). Silva (2011/2012) enfatiza que é comum os professores, perante situações desse gênero não saberem que medidas tomar e acabam por ignorar o problema que tem diante de si.
Essa “omissão”, ou não intervenção, pode ocasionar prejuízos no desempenho/aprendizagem do aluno. Esse, por sua vez, pode desmotivar-se e prolongar a sua condição de objeção a participação no ambiente escolar, que no caso do mutismo seletivo é representado pela não comunicação verbal. Necessita-se, segundo Silva (2011/2012), repensar uma pedagogia que permita a motivação, a participação e o sucesso educativo de todos os alunos. Não existem fórmulas educativas prontas para seguir. Assim, o professor deve fazer o seu trabalho, adequando sua metodologia de acordo com as características individuais de cada aluno, para que todos façam parte integrante da aprendizagem.

3. Possíveis métodos pedagógicos para amenizar os sintomas do distúrbio do aluno com MS em sala de aula

          O trabalho do professor que observa uma criança com MS na sala de aula pode centrar-se em métodos para auxiliar em diminuir a ansiedade, aumentar a autoestima, a confiança e consequentemente a comunicação no contexto social, partindo sempre do que a criança é capaz de fazer com ajuda.
As ações pedagógicas devem privilegiar o incentivo ao aluno com mutismo seletivo a estabelecer uma interação de forma espontânea com os adultos, colegas da escola, ou do seu meio social e familiar, expressando-se verbalmente e respondendo de forma audível às perguntas que os interlocutores lhe colocam e/ou interações que ocorrem no ambiente escolar.
Para Peixoto (2006), é sempre desejável que se utilizem vários critérios sobre o comportamento verbal e sua avaliação em situações distintas para que se tenha uma descrição mais exata da natureza e da gravidade do mutismo seletivo.
            Partindo do conceito de mutismo seletivo como um transtorno pouco frequente que se caracteriza pela ausência total e persistente da linguagem em determinadas circunstâncias, entende-se que uma das formas de superá-lo consiste em buscar identificar e enfrentar as situações sociais e comunicativas que o provocam.
          No ambiente escolar podem-se identificar inúmeras situações que indiquem a produção de situações inibidoras, como: apelidos, situações de intimidação da fala, risos, correções inoportunas de pronúncias, do modo de falar, entre outras. A tarefa fundamental do professor será a de estabelecer métodos de intervenção para que situações e atividades individuais ou em grupo possibilitem a comunicação verbal da criança, de maneira que ela adquira segurança e confiança nesse processo.
            Para Santos (2013, p.3):

Não se deve desistir de estimular a interação verbal e a interatividade da criança, mas de forma alguma se deve fazê-lo através de pressão, atitudes rígidas não compreensivas, nem de criar sentimentos de culpa por uma atitude crítica ou evasiva com relação à criança mutista.

O autor ressalta que a prática pedagógica deve ser algo que estimule e incentive o aluno mutista ao diálogo. As atividades não devem ser enfadonhas e nem impositivas, a criança deve apreender de maneira espontânea a necessidade de se comunicar no ambiente escolar e vislumbrar com essa ação um benefício ao seu processo de socialização nesse ambiente.
No caso de RJ a realidade descrita no processo de observação revelou que a aluna é reservada e extremamente tímida, não respondia nem a chamada que a professora fazia. Mesmo sendo bem aceita pelos seus colegas de turma, não verbaliza com eles, se comunicando através de gestos (Relatório de observação, p. 2).
         O comportamento de RJ pode indicar um caso clássico de MS, pois segundo Coll (2004, p. 88),

Há uma série de fatores que podem influir na linguagem e na aprendizagem da criança, como a integridade sensorial, física, intelectual e emocional. A maior parte delas está fora de controle dos educadores. Estes devem procurar incidir sobre as variáveis que estão efetivamente sob o seu controle. [...] Partir dos interesses, das experiências e das competências das crianças, para ajustar os diferentes elementos da linguagem aos conhecimentos prévios e às possibilidades compreensivas das crianças.

            Dessa forma, somente após uma exaustiva avaliação e diagnóstico sobre o mutismo seletivo, o educador poderá proceder com o planejamento de estratégias de atuação como: intervenção técnica e práticas pedagógico-didáticas que possam colaborar para que a situação seja enfrentada de maneira adequada.
No ambiente escolar, observar bem para que as avaliações feitas às crianças mutistas, não se limitem em seus níveis acadêmicos, levando em conta as suas dificuldades de verbalização e suas implicações no desenvolvimento do QI ou potencial de aprendizagem escolar.
A participação da família, da escola (alunos, professores, equipe pedagógica e demais sujeitos), de uma equipe especializada em trabalho com crianças que apresentam Necessidades Educacionais Especiais (NEE) e em conjunto com outros profissionais da área psicossocial, é fundamental no acompanhamento e monitoramento de alunos que apresentam uma determinada disfunção, como é o caso do Mutismo Seletivo.
O objetivo de uma ação conjunta é promover ações de integração/inclusão das crianças com MS que deve ser considerado uma deficiência a ser superada. Onde, o Parecer nº. 17/2001, das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, define que:
[...] quando os recursos existentes na própria escola mostrarem-se insuficientes para melhor compreender as necessidades educacionais dos alunos e identificar os apoios indispensáveis, a escola poderá recorrer a uma equipe multiprofissional.

            O caso de RJ pode indicar o trabalho em rede (família, escola e serviço especializado) como sendo uma ação importante. O relatório da professora e o relatório da fonoaudióloga sobre o caso de RJ são enfáticos em destacar a necessidade de desenvolver atividades que possam estimular a sua verbalização no ambiente escolar.
         Ao mesmo tempo é importante solicitar que num caso como esse se deve evitar atitudes que possam expor a criança ao constrangimento como, por exemplo, corrigir ou pedir que a criança repita suas produções erradas ou incompletas, pois, tal atitude pode aumentar a sensação de fracasso da criança e inibir a iniciativa de comunicação. Isso também pode provocar situações de humilhação, disseminação ou bullying [5] por seus pares. Nesse sentido o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p.13 - 14) orienta que:
O modo como os traços particulares de cada criança são recebidos pelo professor, e pelo grupo em que se insere tem um grande impacto na formação de sua personalidade e de sua auto-estima, já que sua identidade está em construção. Um exemplo particular é o caso das crianças com necessidades especiais. Quando o grupo a aceita em sua diferenças esta aceitando-a também em sua semelhança, pois embora com recursos diferenciados, possui, como qualquer criança competências próprias para interagir com o meio.

A partir dessa leitura observamos que a escola se constitui em um espaço privilegiado de ação pedagógica onde devemos procurar encorajar o uso da linguagem em diferentes situações. Valorizar a diversidade e, sobretudo, lançar um olhar pedagógico que propicie a inclusão.
No caso das crianças com dificuldade de comunicação elas podem sentir-se inseguras para praticarem atividades que exigem a oralidade. Isso exige habilidade do professor em conduzir o processo de maneira que a ação pedagógica seja trabalhada e não imposta ao sujeito, ou vista como uma obrigatoriedade. O ato de se comunicar em ambiente em que RJ apresenta rejeição deve ser estimulado como uma atividade prazerosa.
Salienta-se também que se deve buscar programar na dinâmica da aula, atividades que impliquem o contato físico entre as crianças (dar abraços), ou, desenvolver atividades em grupo onde o professor participa (jogo social e trabalho cooperativo). Como forma de criar um clima de segurança, aceitação e confiança favorável à comunicação verbal ao utilizar todos os meios que facilitem a compreensão da mensagem e do bom estabelecimento da interação comunicativa. Sob essa ótica Peixoto (2006, p. 28) observa que:

Teóricos da aprendizagem têm visto o comportamento não-verbal como uma resposta aprendida na qual a recusa em falar é um método de manipulação do ambiente. Ele sugere que o comportamento não-verbal é mantido por reforçadores sociais significativos como pais e professores.

          A partir das observações apontadas vale ressaltar a importância de manter uma estreita relação com a família para assegurar o fluxo de informações e o ajuste de critérios e estratégias entre o contexto familiar e escolar, como maneiras de fortalecer os vínculos e a segurança da criança que apresenta MS no ambiente escolar.
          No caso da família, torna-se fundamental aprender sobre as aptidões e gostos dos filhos para dessa forma motivá-los em seu desenvolvimento de interação em todos os ambientes que ele frequenta, para que possa progredir tanto na escola como fora do ambiente escolar.
            De acordo com Kramer (1997, p.177)

Quando pensamos em educação, estamos falando das diversas possibilidades que existem no dia-a-dia (escola, família, lazer, etc.) de modificações através das interações que ocorrem nas diferentes situações de uma pessoa. Estas interações engendram a prática educativa, pois constroem novas situações e significações a cada experiência.

Percebe-se que o progresso da criança não tem que ser paralelo em todos os contextos, pois exige uma contínua adaptação das atividades à sua volta e em função da evolução conseguida em cada um deles. Para algumas serão suficientes estas medidas, enquanto que para outras não produzem os efeitos desejados. No último caso, se deve proceder com uma reavaliação de todo o processo educativo e desenvolver um programa de intervenção mais específico. Nessa perspectiva Peixoto (2006, p. 46) sinaliza que:

É essencial captar diferentes fontes de informação sobre o comportamento da criança, tais como: pais, professores, médicos e a própria criança, a fim de que se diminuam as discrepâncias entre o que é dito e o que realmente acontece com a criança.

Todo o sistema social da criança deve estar envolvido de forma apropriada no processo de aprendizagem. O tratamento de um mutista seletivo severo deve ser acompanhado por profissionais especializados na área da fonoaudiologia e da psicologia. Quando necessário a psicoterapia, a terapia da fala ou a psicofarmacologia podem ser importantes. Durante a avaliação fonoaudiológica observou-se que:

A paciente, RJ, seis anos de idade, compareceu ao consultório no dia 04 de outubro de 2013, acompanhada com a responsável. [...] Apesar de olhar vagamente para as pessoas que estão falando, compreende ordens e solicitações, copia e lê palavras simples, porem quanto ao nível de desenvolvimento do processo de comunicação, observou-se que não existe intencionalidade na comunicação com o outro, apresentando interação de comunicação apenas no meio familiar, problema fundamentalmente comunicativo, pois a linguagem está presente, porém não é utilizada em determinadas circunstancias ou contextos. [...] Diante do exposto, necessita-se de exame complementar para a conclusão de hipótese diagnóstica. (Relatório fonoaudióloga, p. 01, 2013)

       O próprio diagnóstico da fonoaudióloga indica que RJ necessita de um acompanhamento e de outros exames para confirmar o diagnóstico. Não se trata de uma ação isolada da escola, ou da família para que o problema seja resolvido, mas uma ação conjunta.
         No âmbito da análise do método pedagógico como é proposto nessa seção, observa-se que a ação mais adequada do professor que lida com uma criança que apresenta MS é proporcionar a esse indivíduo condições para que ele interaja com seus pares e nos demais ambientes da escola por meio do estímulo a verbalização. Ainda que seja momentos específicos, ou situações específicas para que a criança ganhe confiança e sinta-se segura para romper com esse comportamento adverso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo apresentado foi realizado em uma escola de ensino fundamental do município de Boa Vista. No decorrer do trabalho e a partir dos levantamentos de dados, identificou-se uma criança que apresenta características de MS.
Esse comportamento chamou a atenção e despertou a intenção de realizar a pesquisa. A aluna RJ possui um comportamento introspectivo, que pode ter sido originado por alguma relação traumática, por aspectos hereditários ou até mesmo uma situação de fobia social. Todos esses fatores podem estar associados entre si, ou serem de maneira isolada a causa desse possível distúrbio.
      Esse estudo contribuiu para identificar a situação de uma criança que apresenta características de MS, representado pela ausência seletiva de comunicação desse sujeito no ambiente escolar. No entanto, essa sua condição não era vista pelo profissional de educação como uma deficiência. O MS em sala de aula não resulta no impedimento de outras formas de socialização com seus pares e no estabelecimento das tarefas escolares, exceto as que exigem a expressão verbal.
     Nesse sentido baseado em Coll (2004), Peixoto (2006), Silva (2011/2012) que contribuíram para a categorização do MS de maneira percebe-se uma invisibilidade do problema que precisa ser rompida pelo próprio profissional de educação, para que as ações de interação verbal da criança no meio escolar possam ser estimuladas.
      Para amenizar a situação deve-se incentivar positivamente a criança em seu aprendizado, através de jogos que estimulem a sua participação, contando histórias, quando a mesma cometer algum erro, não fazer críticas negativas, incentivando assim, que ela passe a interagir com os demais alunos da escola para que dessa forma possamos auxiliar em uma possível melhora dos sintomas do mutismo que tanto lhe causa transtorno.
   Necessita-se fazer um trabalho integrado entre pais, professores, fonoaudiólogos e terapeutas, que poderá possibilitar um resultado mais eficaz, e dessa forma apontar aos indivíduos com MS uma maneira de ultrapassar suas barreiras de dificuldade de comunicação e interação em seu ambiente escolar melhorando sua vida social e, dessa forma, tornando-se uma pessoa comunicativa com os demais sujeitos e qualificando o seu processo de ensino e aprendizagem.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental- Brasília MEC/SEF, 1998.
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